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‘Disseram que eu tinha morrido’: histórias da 1ª vacinada contra Covid


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'Me disseram que eu tinha morrido': as histórias da primeira vacinada contra covid no Brasil
André Biernath – @andre_biernath – Da BBC News Brasil em São Paulo

‘Me disseram que eu tinha morrido’: as histórias da primeira vacinada contra covid no Brasil

André Biernath – @andre_biernath – Da BBC News Brasil em São Paulo

Aquele domingo de 17 de janeiro de 2021 começou como um dia normal na vida de Mônica Calazans.

Às 5h30 da manhã, ela pegou o transporte público em Itaquera, bairro da Zona Leste de São Paulo, em direção ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na Zona Oeste da capital paulista.

O hospital, uma das referências no tratamento de doenças infecciosas no Brasil, é um dos locais de trabalho de Calazans. Como enfermeira, ela também atua no Pronto-Atendimento de São Mateus, na região leste da cidade.

Ao chegar no Emílio Ribas, ela iniciou o seu plantão e estava cuidando de três pacientes. Por volta do meio dia, o telefone da enfermaria tocou.

“Era minha diretora. Ela comentou que a vacinação contra a covid-19 poderia começar logo”, lembra.

Naquele mesmo domingo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, estava fazendo uma reunião para decidir se os imunizantes CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e Oxford/Covishield (AstraZeneca/FioCruz) receberiam (ou não) autorização para serem aplicados no Brasil.

A reunião, que contou com a presença dos principais diretores da agência, foi transmitida ao vivo pelas redes sociais e por alguns canais de televisão.

Se aprovadas, essas seriam as primeiras vacinas contra a covid-19 a ficarem disponíveis no país. Até aquele momento, a doença já havia matado 210 mil brasileiros.

Logo depois de falar com a diretora, Calazans desceu até o Centro de Convenções Rebouças, que fica bem próximo do Emílio Ribas. Ali seria local onde as primeiras doses de CoronaVac seriam aplicadas nos profissionais de saúde.

Por volta das 15 horas, saiu o resultado: a Anvisa tinha aprovado as vacinas.

“Eu estava sentada no auditório do centro de convenções quando vi uma foto minha numa reportagem com a manchete: ‘Enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, é a primeira vacinada contra a covid no Brasil'”, relata.

A notícia foi publicada em primeira mão pela jornalista Mônica Bergamo , na Folha de S.Paulo.

“De repente, comecei a ouvir: ‘Cadê a Mônica? Cadê a Mônica?”, continua.

A enfermeira garante que não tinha a menor ideia de que seria a primeira brasileira vacinada contra a covid-19.

“Você acha mesmo que, se eu soubesse que apareceria em rede nacional e internacional, não iria me produzir um pouquinho mais, passar um batom, retocar a maquiagem e trocar de roupa?”, brinca.

Assim que recebeu a vacina no braço, Calazans diz que sentiu-se aliviada e vitoriosa.

“Naquele momento, eu entendi que era dado o pontapé inicial para controlar uma doença tão terrível e avassaladora. Finalmente tínhamos uma solução para proteger as pessoas”, entende.

“Eu ergui e cerrei meu punho porque senti que era um momento de vitória”, complementa.

Passado um ano desde aquele dia, a profissional da saúde entende que a escolha dela como a primeira brasileira a receber o imunizante foi cercada de significados.

“Eu sou mulher, mãe solo, negra, enfermeira e trabalho no SUS [Sistema Único de Saúde] desde 1985. De certa maneira, eu represento a força, o engajamento e o comprometimento de muita gente”, avalia.

O dia seguinte

Calazans confessa que não conseguiu trabalhar no dia 18 de janeiro de 2021.

“Das 6 horas da manhã até às 9h da noite eu dei entrevistas. Todo mundo queria saber como era a minha rotina”, conta.

“E, pra ser sincera, minha vida só mudou no aspecto da visibilidade. Eu continuo trabalhando em dois empregos, cuido da minha casa, pego transporte público, faço a janta…”

Mesmo que a rotina dela tenha sido pouco alterada nesses 12 meses após se tornar a primeira vacinada do Brasil, o ano de 2022 promete mudanças: no dia 5 de janeiro, o portal G1 noticiou que a enfermeira se filiou ao partido MDB e é pré-candidata a deputada federal nas próximas eleições, marcadas para outubro.

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Questionada pela BBC News Brasil sobre os projetos na política, Calazans não quis dar muitos detalhes. Ela comentou apenas que “em breve, terá informações”.

Voltando ao dia 17 e 18 de janeiro de 2021, a enfermeira acha que esse interesse da imprensa e da população em saber mais sobre ela também tem a ver com uma curiosidade natural sobre os efeitos da vacina.

“Existia uma preocupação muito grande das pessoas se poderia acontecer alguma reação adversa ou se eu estava me sentindo mal”, diz.

Foi justamente nesse momento que começaram a surgir as notícias falsas sobre o estado de saúde dela em aplicativos de mensagens e redes sociais.

“Disseram pra mim mesma que eu tinha morrido após a vacina”, conta.

“Até comentei com a minha mãe que estava com medo de andar na rua e o povo me dar paulada, achando que era um fantasma”, se recorda.

Desse período, Calazans lembra de uma história específica que envolveu um motorista de aplicativo.

“Eu estava de máscara e vestida de branco, com a roupa do trabalho. O motorista percebeu que sou profissional da saúde e comentou: ‘Sabe aquela mulher que tomou a vacina contra a covid? Coitada, ela está muito ruim, internada no hospital e tudo. Por que ela foi fazer isso? Não deveria ter tomado'”, relata.

A enfermeira conta que ficou só escutando toda a história até chegar ao destino. “Quando fui sair do carro, tirei rapidamente a máscara e falei: ‘Sabe a primeira mulher vacinada que você diz estar mal? Sou eu mesma!”, relata.

“Ele congelou, não sabia como reagir”, completa.

Calazans sabe que o maior reconhecimento e a promoção como figura pública também trouxeram muitas responsabilidades.

“Desde aquele dia, tenho que tomar muito cuidado com o que digo e com o que posto nas redes sociais. Tenho que levar informação e conscientizar as pessoas sobre a importância da vacinação para salvar vidas”, destaca.

A tormenta e a calmaria

Logo após o início da vacinação contra a covid em janeiro de 2021, o Brasil viveu o seu pior momento da pandemia até agora.

Entre os meses de fevereiro e junho, o país bateu recordes de casos e óbitos e testemunhou o colapso do sistema de saúde em muitas cidades.

“A gente não dava vazão do tanto de pacientes que nos procuravam. Eu via os números aumentarem e pensava que daqui a pouco iria morrer todo mundo”, confessa a enfermeira.

“Mas, conforme a vacinação avançou, percebi que os casos foram diminuindo e saímos aos poucos daquele período mais difícil”, observa.

Com a queda nas infecções e nos óbitos por covid a partir do segundo semestre de 2021, Calazans diz que houve uma mudança no perfil dos pacientes que buscavam atendimento.

“Aquelas pessoas com comorbidades que tinham receio de ir até as unidades de saúde reapareceram para cuidar melhor das outras doenças”, diz a profissional da saúde, que também notou um aumento na chegada de pacientes com sintomas de infecções respiratórias nas últimas semanas.

Experiências, aprendizados e projetos futuros

Quando questionada pela reportagem da BBC News Brasil sobre a história que mais marcou sua trajetória desde o início da pandemia, Calazans traz a resposta na ponta da língua.

“Posso ficar horas contando casos e mais casos, mas a primeira que me vem à mente aconteceu no dia 31 de dezembro de 2020”, destaca.

“Estava no Pronto Atendimento de São Mateus quando atendi um senhor com 68 anos que tinha sido diagnosticado com covid e precisava ser internado. Ele seria transferido para Parelheiros, na Zona Sul, do outro lado da cidade.”

“Eu tive que colocá-lo na ambulância e dizer para o filho que ele não poderia ir junto. Imagina, separar uma família justo na virada do ano, uma data que a gente quer comemorar e estar próximo de quem amamos.”

A enfermeira lembra que, na correria do atendimento, acabou trocando contatos telefônicos com o filho do paciente.

“Para minha surpresa, recebi uma mensagem no dia 17 de janeiro (data em que ela foi vacinada). O filho me escreveu que estava muito feliz em saber que a primeira pessoa vacinada tinha cuidado de seu pai e agradeceu, pois o homem tinha se recuperado depois de passar cinco dias no hospital”, relata.

Embora uma história ou outra fique marcada em sua memória, Calazans entende que a experiência de lidar diretamente com a maior pandemia do século trouxe uma série de lições.

“Eu aprendi que é preciso ter mais empatia e sempre se colocar no lugar do outro”, diz.

“É necessário cuidar bem de todas as pessoas, porque um dia serei eu, ou alguém da minha família, que vai precisar desses mesmos cuidados.”

Fonte: IG SAÚDE

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Saúde

Governador entrega veículo para Coordenadoria da Saúde

Na sexta-feira, 14 de fevereiro, o governador Eduardo Leite entregou 50 veículos novos à Secretaria da Saúde (SES) em Porto Alegre

Os veículos, sendo 25 sedans e 25 caminhonetes 4×4, custaram cerca de R$ 8,1 milhões, com recursos do Estado e do governo federal. Destinados às 18 coordenadorias regionais da SES e ao nível central, os carros visam melhorar a prestação de serviços de saúde.

 

A cerimônia contou com autoridades, como o próprio Governador Eduardo Leite, o deputado Frederico Antunes e a Secretária da Saúde, Arita Bergmann.

Entre os beneficiados estava a 10ª Coordenadoria de Saúde, representada por Haracelli Fontoura.

 

 

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Saúde

Aumento da depressão em idosos preocupa no Brasil

Dados do IBGE revelam que 13,2% dos idosos entre 60 e 64 anos sofrem de depressão, superando a média nacional. Solidão e perdas agravam depressão entre idosos

A incidência de depressão entre idosos no Brasil tem apresentado um aumento preocupante, com 13,2% das pessoas entre 60 e 64 anos diagnosticadas com a condição, superando a média nacional de 10,2% para indivíduos acima dos 18 anos, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Este aumento é ainda mais acentuado entre aqueles com 75 anos ou mais, registrando um crescimento de 48% entre 2013 e 2019. A história de Ciro Martins, 71 anos, reflete essa realidade. Após perder sua esposa em 2023, Ciro enfrentou uma profunda solidão que o levou à depressão.

A intervenção de um ex-colega de trabalho o encorajou a buscar ajuda profissional, resultando em um diagnóstico de depressão e um tratamento eficaz que revitalizou seu interesse pelas atividades diárias e pela socialização.

Especialistas apontam que a depressão em idosos é causada por uma combinação de fatores biológicos, como alterações nos níveis de neurotransmissores e o uso de medicamentos que podem agravar os sintomas, e sociais, principalmente o isolamento social e a solidão.

Alfredo Cataldo Neto, professor da Escola de Medicina da Pucrs, destaca a importância de uma abordagem diferenciada no tratamento da depressão em idosos, observando que os sintomas muitas vezes se manifestam de maneira distinta, com queixas físicas frequentemente substituindo expressões diretas de sofrimento emocional.

A solidão, agravada pela perda de cônjuges e mudanças familiares, é um dos principais desafios enfrentados pelos idosos. A taxa de suicídio entre essa faixa etária tem crescido no Brasil, evidenciando a gravidade da situação.

No Rio Grande do Sul, a expectativa de que 40% da população terá mais de 60 anos até 2070 ressalta a urgência de implementar políticas públicas voltadas para a saúde mental dos idosos.

Com informações do JC

 

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Saúde

O perigo que vem da China. Infectologistas recomendam precaução contra Metapneumovírus

 Sem vacina para HMPV, medidas como uso de máscaras e higiene são essenciais, dizem especialistas

Um surto de Metapneumovírus Humano (HMPV) foi identificado na China, levantando preocupações devido ao aumento de casos em algumas regiões do país.

Este vírus, responsável por sintomas como febre, tosse e congestão nasal, foi reportado nesta 3ª feira (08 de jan. de 2025). Apesar das preocupações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas em infectologia descartam a possibilidade de uma nova pandemia no momento.

A OMS comunicou que mantém contato constante com as autoridades chinesas, que têm tranquilizado tanto a população quanto a comunidade internacional.

As informações indicam que a intensidade e a escala da doença são inferiores às de anos anteriores. O governo de Pequim adotou um novo protocolo de monitoramento para gerenciar a situação.

Segundo a infectologista Emy Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, a circulação do HMPV é comum, especialmente durante o inverno no hemisfério norte. Ela destacou a ausência de vacinas contra o HMPV e recomendou medidas preventivas como distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos.

“Não existe um antiviral específico, e o tratamento para o paciente em casa consiste em medicamentos sintomáticos, repouso e hidratação,” afirmou Gouveia.

O HMPV foi identificado pela primeira vez em 2001 na Holanda, embora já circulasse antes dessa data. No Brasil, o vírus foi detectado em crianças menores de três anos em Sergipe, em 2004.

Gouveia observou que as mutações do HMPV são mais estáveis e raras em comparação com a Covid-19, o que facilita a gestão da doença.

A transmissão do HMPV ocorre por vias aéreas e contato com secreções contaminadas. O período de incubação varia de cinco a nove dias. Estudos indicam que a maioria das crianças até cinco anos já teve contato com o vírus.

Gouveia também alertou sobre o risco do HMPV em agravar doenças pulmonares pré-existentes, especialmente em crianças, devido à inflamação prolongada e hiperprodução de secreção.

 

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