Saúde
Por que pesquisadores defendem volta às aulas mais tarde após lockdown
Paula Adamo Idoeta – Da BBC News Brasil em São Paulo
A pandemia não tem sido nada fácil para adolescentes, com o fechamento prolongado das escolas, as dificuldades nas aulas online e os impedimentos de se socializar pessoalmente com outros jovens da mesma idade.
Mas é possível que parte desses adolescentes tenha tido ao menos um ganho importante durante os meses mais duros da quarentena: a chance de dormir mais tempo, uma vez que não precisavam acordar cedo para ir à escola.
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E dormir bem é um fator crucial para a saúde e o desenvolvimento na adolescência – argumento principal de médicos e especialistas que defendem que as aulas presenciais de jovens não devem começar tão cedo pela manhã, para permitir que os jovens tenham mais horas de sono (entenda mais abaixo).
Uma pesquisa feita na Suíça , recém-publicada na JAMA Network Open, avaliou o sono de 3,6 mil estudantes da etapa equivalente ao ensino médio, com idade média de 16 anos, durante os meses iniciais de lockdown no país – entre 13 de março e 6 de junho de 2020, quando as aulas suíças migraram para o ambiente remoto.
Ao comparar o tempo de sono desses adolescentes com um grupo de controle, que havia sido mensurado em 2017, ou seja, durante um período típico de aulas, os pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Zurique concluíram que, durante o lockdown pandêmico, os estudantes puderam dormir até 75 minutos a mais por dia de semana (nos fins de semana, não houve diferenças significativas entre os dois grupos).
Esse período adicional de sono foi associado a melhores indicadores de saúde, segundo os pesquisadores.
“Os participantes dormiram significativamente mais e apresentaram indicadores melhores de saúde, com menos consumo de cafeína e álcool do que antes da pandemia”, diz a pesquisa.
Um problema detectado pelos estudiosos é que esses ganhos de saúde trazidos pela oportunidade de dormir mais foram ofuscados pela incidência maior de tristeza, isolamento, sedentarismo e depressão em muitos adolescentes durante a pandemia, sobretudo na época mais restritiva da quarentena.
Ou seja, por um lado os adolescentes entrevistados na Suíça relataram estar mais descansados e cheios de energia. Por outro, se sentiram mais solitários e tristes por não poderem estar presencialmente com os amigos.
Como conclusão, de qualquer modo, os pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Infantil defendem que as descobertas em torno do sono extra na pandemia podem ajudar as escolas a traçar suas políticas em caso de futuros fechamentos das aulas presenciais.
E os estudiosos vão além, dizendo que “as descobertas do estudo mostram claramente os benefícios de as aulas escolares começarem mais tarde pela manhã, para que os jovens possam dormir mais”, nas palavras do principal autor da pesquisa, Oskar Jenni, professor de Desenvolvimento Pediátrico na Universidade de Zurique.
O sono dos adolescentes brasileiros
Não é possível saber ao certo se resultados semelhantes de tempo adicional de sono teriam sido identificados entre adolescentes brasileiros durante a quarentena e as aulas online – lembrando, também, que muitos jovens de baixa renda daqui foram precocemente empurrados ao mercado de trabalho para ajudar no sustento de suas famílias por conta do desemprego e da crise econômica, e muitos outros não conseguiram ter acesso regular ao conteúdo do ensino remoto.
Em 2020, uma pesquisa feita em conjunto pela FioCruz e pela UFMG identificou que 48,7% dos adolescentes de 12 a 17 anos do país se sentiam, na época, preocupados, nervosos ou com mau humor, na maioria das vezes ou sempre.
Eles passaram a consumir mais doces e alimentos ultraprocessados, e também se tornaram mais sedentários – o que certamente não contribuiu para sua saúde.
A pesquisa não abordou horas de sono, mas sim a qualidade deste – que piorou para 36% dos jovens brasileiros.
Mas, quando os jovens têm chance de dormir mais – e acordar um pouco mais tarde -, os benefícios à saúde já estão evidentes do ponto de vista científico, explica à BBC News Brasil a neurologista Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira do Sono.
“O sono tem impacto no humor, na ansiedade, na depressão e na sociabilização dos adolescentes”, diz ela.
A biologia do sono
Bacelar explica que aquele jovem que sofre para acordar cedo para ir à escola ou que cochila nas primeiras aulas matutinas não pode ser chamado de preguiçoso ou indisciplinado. É uma questão biológica:
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“Nessa faixa etária de 13 a 18 anos, ocorre uma tendência de atraso na produção e na curva da melatonina”, o hormônio que nos induz ao sono, diz a médica.
“Obviamente existem as redes sociais, a luz azul produzida pelos celulares e outros estímulos (que mantêm os jovens acesos) e agravam isso. Mas, biologicamente, a maioria dos adolescentes não tem sono por volta das 22h porque não tem hormônio do sono sendo produzido em seu corpo”, prossegue.
O problema é que, apesar dessa mudança hormonal, os adolescentes continuam precisando de mais tempo de sono que os adultos – a recomendação é dormir idealmente de 9 a 10 horas por noite – para manterem uma boa saúde física e mental, e para conseguirem estar alertas e motivados nas aulas.
A conta, então, não fecha para os alunos que estudam de manhã cedo, a partir das 7h: “Sabemos que, mesmo que esse jovem acorde às 6h – o que não é o caso de muitos que moram longe da escola, precisam pegar condução etc -, ele teria que ir dormir às 20h para ter a quantidade ideal de horas de sono que lhe faça crescer, produzir, ir bem e não cochilar nas aulas. É praticamente inviável”, pondera Bacelar.
Em 2018, a Associação Brasileira do Sono aplicou questionários em 1,9 mil jovens de 13 a 17 anos do país, que disseram dormir, em média, de seis a seis horas e meia em dias de semana. Na prática, isso equivale a um quadro de privação de sono nessa faixa etária.
Quase 60% dos jovens entrevistados se disseram insatisfeitos com o tempo que conseguiam dormir nos dias de semana.
“É um ‘jet lag’ social, de privação de sono por necessidade, que resulta em um déficit de dez horas de sono por semana”, explica Bacelar. “E sono perdido não tem volta: se o adolescente não cresceu, não vai crescer. E ele pode ficar mais ansioso ou ganhar peso por questões metabólicas (ligadas à privação do sono).”
Começar aulas mais tarde?
Por isso, a associação tem defendido, nos últimos anos, que as escolas brasileiras adiem o horário de início das aulas matinais, para no mínimo 8h da manhã. Um projeto de lei chegou a ser elaborado com esse intuito, mas acabou tendo sua tramitação retardada durante a pandemia, explica Andrea Bacelar.
É um debate que ocorre em outros países. Nos EUA, a Academia Americana de Pediatras recomenda que as aulas escolas do equivalente ao ensino fundamental 2 e ao ensino médio não comecem antes das 8h ou 8h30 – algo que foi transformado em lei na Califórnia em 2019, com data limite de julho deste ano para vigorar em todas as escolas do Estado.
O Centro de Controle de Doenças dos EUA, porém, destacou em documento que a maioria das escolas americanas ainda começa suas aulas “cedo demais “, o que é associado a “riscos de saúde entre estudantes do ensino médio, como excesso de peso, consumo de álcool e cigarro e uso de drogas, além de desempenho acadêmico ruim”.
Um estudo noticiado pela BBC no ano passado apontou, também, que um bom sono na adolescência parece estar associado a uma melhoria na saúde mental na vida adulta.
De volta ao Brasil, a médica Andrea Bacelar também entende os motivos que levam à resistência de escolas (e de algumas famílias) a mudanças no horário de entrada de escolas: entrar mais tarde significa ter de sair mais tarde das aulas, o que dificulta a tarefa de equilibrar turnos escolares e outras atividades, e de conciliar horários de professores (muitos dos quais trabalham em mais de uma escola).
Há, também, a dificuldade de muitos pais em levarem filhos mais tarde para a escola, caso tenham eles próprios que chegar cedo ao trabalho.
Bacelar destaca, porém, que escolas que adotaram horários mais tardios por conta própria no Brasil têm observado ganhos de produtividade, sociabilização, humor e atenção entre os alunos.
“É fato que há questões logísticas, mas é possível buscar alternativas – por exemplo, fazendo parte das aulas de forma assíncrona (ou seja, sem que todos os alunos tenham de estar presencialmente ao mesmo tempo) à distância, como ocorreu no ensino remoto”, defende. “Os ganhos para a saúde compensam.”
E a neurologista argumenta que entrar mais tarde na escola não pode ser confundido com ir dormir ainda mais tarde ou passar mais tempo diante de eletrônicos à noite.
“Quando os pais me dizem que ‘meu filho vai ficar nas redes sociais até mais tarde’, digo que a disciplina com os aparelhos eletrônicos tem de continuar”, recomenda a neurologista.
“É preciso ficar longe da luz azul (aquela produzida por tablets e celulares) uma hora antes de dormir, para não retardar a produção de melatonina. E o ideal é toda a família contribuir e estar pronta para dormir mais cedo.”
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Saúde
Governador entrega veículo para Coordenadoria da Saúde
Na sexta-feira, 14 de fevereiro, o governador Eduardo Leite entregou 50 veículos novos à Secretaria da Saúde (SES) em Porto Alegre
Os veículos, sendo 25 sedans e 25 caminhonetes 4×4, custaram cerca de R$ 8,1 milhões, com recursos do Estado e do governo federal. Destinados às 18 coordenadorias regionais da SES e ao nível central, os carros visam melhorar a prestação de serviços de saúde.
A cerimônia contou com autoridades, como o próprio Governador Eduardo Leite, o deputado Frederico Antunes e a Secretária da Saúde, Arita Bergmann.
Entre os beneficiados estava a 10ª Coordenadoria de Saúde, representada por Haracelli Fontoura.
Saúde
Aumento da depressão em idosos preocupa no Brasil
Dados do IBGE revelam que 13,2% dos idosos entre 60 e 64 anos sofrem de depressão, superando a média nacional. Solidão e perdas agravam depressão entre idosos
A incidência de depressão entre idosos no Brasil tem apresentado um aumento preocupante, com 13,2% das pessoas entre 60 e 64 anos diagnosticadas com a condição, superando a média nacional de 10,2% para indivíduos acima dos 18 anos, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Este aumento é ainda mais acentuado entre aqueles com 75 anos ou mais, registrando um crescimento de 48% entre 2013 e 2019. A história de Ciro Martins, 71 anos, reflete essa realidade. Após perder sua esposa em 2023, Ciro enfrentou uma profunda solidão que o levou à depressão.
A intervenção de um ex-colega de trabalho o encorajou a buscar ajuda profissional, resultando em um diagnóstico de depressão e um tratamento eficaz que revitalizou seu interesse pelas atividades diárias e pela socialização.
Especialistas apontam que a depressão em idosos é causada por uma combinação de fatores biológicos, como alterações nos níveis de neurotransmissores e o uso de medicamentos que podem agravar os sintomas, e sociais, principalmente o isolamento social e a solidão.
Alfredo Cataldo Neto, professor da Escola de Medicina da Pucrs, destaca a importância de uma abordagem diferenciada no tratamento da depressão em idosos, observando que os sintomas muitas vezes se manifestam de maneira distinta, com queixas físicas frequentemente substituindo expressões diretas de sofrimento emocional.
A solidão, agravada pela perda de cônjuges e mudanças familiares, é um dos principais desafios enfrentados pelos idosos. A taxa de suicídio entre essa faixa etária tem crescido no Brasil, evidenciando a gravidade da situação.
No Rio Grande do Sul, a expectativa de que 40% da população terá mais de 60 anos até 2070 ressalta a urgência de implementar políticas públicas voltadas para a saúde mental dos idosos.
Com informações do JC
Saúde
O perigo que vem da China. Infectologistas recomendam precaução contra Metapneumovírus
Sem vacina para HMPV, medidas como uso de máscaras e higiene são essenciais, dizem especialistas
Um surto de Metapneumovírus Humano (HMPV) foi identificado na China, levantando preocupações devido ao aumento de casos em algumas regiões do país.
Este vírus, responsável por sintomas como febre, tosse e congestão nasal, foi reportado nesta 3ª feira (08 de jan. de 2025). Apesar das preocupações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas em infectologia descartam a possibilidade de uma nova pandemia no momento.
A OMS comunicou que mantém contato constante com as autoridades chinesas, que têm tranquilizado tanto a população quanto a comunidade internacional.
As informações indicam que a intensidade e a escala da doença são inferiores às de anos anteriores. O governo de Pequim adotou um novo protocolo de monitoramento para gerenciar a situação.
Segundo a infectologista Emy Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, a circulação do HMPV é comum, especialmente durante o inverno no hemisfério norte. Ela destacou a ausência de vacinas contra o HMPV e recomendou medidas preventivas como distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos.
“Não existe um antiviral específico, e o tratamento para o paciente em casa consiste em medicamentos sintomáticos, repouso e hidratação,” afirmou Gouveia.
O HMPV foi identificado pela primeira vez em 2001 na Holanda, embora já circulasse antes dessa data. No Brasil, o vírus foi detectado em crianças menores de três anos em Sergipe, em 2004.
Gouveia observou que as mutações do HMPV são mais estáveis e raras em comparação com a Covid-19, o que facilita a gestão da doença.
A transmissão do HMPV ocorre por vias aéreas e contato com secreções contaminadas. O período de incubação varia de cinco a nove dias. Estudos indicam que a maioria das crianças até cinco anos já teve contato com o vírus.
Gouveia também alertou sobre o risco do HMPV em agravar doenças pulmonares pré-existentes, especialmente em crianças, devido à inflamação prolongada e hiperprodução de secreção.
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