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“Prenderam uma mulher preta, mãe,  periférica sabendo que não participei do ato”


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Gessica comemorando a libertação do marido Paulo Galo, que ficou preso por 14 dias; ela passou dois dias no cárcere, mesmo tendo provas de não ter participado do ato
Reprodução/Instagram

Gessica comemorando a libertação do marido Paulo Galo, que ficou preso por 14 dias; ela passou dois dias no cárcere, mesmo tendo provas de não ter participado do ato






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“A escravidão continua existindo de forma moderna: a gente trabalha por pouco, saímos das senzalas, mas somos jogados nas favelas, sem saneamento básico, sem educação, sem moradia digna, somos presos diariamente e marcados diariamente”.

As palavras de Gessica de Paula, 29, resumem o trauma e a revolta de quem foi presa injustamente. Casada com Paulo Galo, do coletivo Entregadores Antifascistas, e mãe de Aisha, de anos, Gessica viu sua tranquila rotina de mãe e trabalhadora autônoma virar do avesso no dia 28 de julho, quando foi presa acusada de participar do incêndio da estátua de Borba Gato, 4 dias antes .

“Passar pelo processo de ser presa foi um baque, principalmente para uma mulher preta, periférica, que tem todos os traumas, todas as dores”, diz. Em entrevista exclusiva ao iG Delas, Géssica conta a seguir sobre como era sua vida antes do ocorrido, a surpresa de ter sido detida mesmo com provas de que estava em casa no momento do incêndio, a preocupação com a filha pequena longe da mãe e do pai e sobre como é o sistema prisional do lado de dentro.




Uma vida normal de mãe, filha, irmã, esposa, amiga, trabalhadora

“A minha vida sempre foi muito tranquila. Eu sou natural da Bahia, eu e toda a minha família. Estou morando em São Paulo há cinco anos. Tem cinco anos também que eu convivo com o Paulo, que somos casados. Quando a minha filha Aisha nasceu eu passei a me dedicar a ela, como grande parte das mães. Eu estava desempregada antes dela nascer, mas um dos dois tinha que sair para trabalhar e o outro ficar com ela. Então decidimos que eu ficaria com ela até completar um ano, para poder ingressar na creche. Desde então (Aisha tem 4 anos) eu fiz cursos de costura e modelagem. Faço entregas nas estações… Antes de ser presa minha vida sempre foi essa: minha filha, minha casa, meu trabalho de costura. 

A minha consciência política e de classe começou a se formar na adolescência, quando comecei a me questionar sobre certas coisas. Como o sistema normaliza meninos de 12, 13, 14 anos perderem a vida? Como existem tantas mães solos? Como é normal você viver na pobreza? Como muitos jovens, o rap também surgiu pra mim, com letras conscientes que aguçaram ainda mais esses questionamentos, porque tudo que o rap dizia era uma realidade na minha vida: eu vi amigos meus morreram muito cedo, vi minha casa ser invadida por policiais e bandidos, vi minha mãe ser abandonada pelos pais de seus filhos, ser uma mãe solo com 5 filhos. Eu ficava me questionando porque aquilo era tão natural.

Por que a gente tinha que viver na pobreza, faltando comida, enquanto os outros tinham tanto? Por que os políticos não olhavam pra gente como humanos? Eu era muito ativa nas minhas redes, mas não participava de nenhum movimento ou associação desde que a Aisha nasceu”.

“Por que eu estava sendo presa se não participei do ato?”

“Começou um burburinho pela Internet de que teria sido o Paulo que teria colocado fogo na estátua. Então disseram que eu teria que me apresentar à polícia para ser ouvida, porque o chip do Paulo estava no meu nome. Eu fui para a delegacia acreditando que iria para minha casa, assim como o meu esposo. A gente só iria lá ser ouvido e seria liberado. Mas, cinco minutos depois que chegamos na delegacia, nossos advogados nos chamaram e comunicaram que haviam dois pedidos de prisão temporária, tanto pro Paulo quanto para mim. 

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Naquele momento ficou um ponto de interrogação: por que eu estava sendo presa? Eu não participei do ato, eu tinha como provar que estava na minha residência, com a minha filha que na época tinha 3 anos e meu irmão de 9 anos. Eu tinha pedido por aplicativo de comida, eu tinha feito telefonemas naquele dia, ou seja, tinha como provar que eu não estava no ato. A justificativa para me prender foi porque o chip estava no meu nome e porque eu compartilhei uma foto nas minhas redes sociais da estátua pegando fogo. 

Eles sabiam que eu estava no ato, então o que eu senti naquele momento era que estava sendo presa uma mãe, uma mulher preta, periférica, pobre. Era também uma forma de atingir meu esposo, de dizer que a forma dele se comportar atingiria os mais fracos – porque esse lado dominante e patriarcal entende que o lado mais fraco somos nós, mulheres. Ali me deu um sentimento de revolta, tristeza, indignação e de me colocar no lugar de muitos e muitas que são presos todos os dias sem ter cometido nenhum crime”. 


Outras Gessicas

“O único crime que homens e mulheres cometem diariamente é ser preto, ser pobre. Isso basta pra você ser preso. Porque assim como eu existem várias Gessicas, presas sem terem cometido algo, porque só de existir você já é suspeito. O perfil do enquadramento carcerário é sempre o mesmo: são mulheres pretas, pobres, gestantes, com sofrimento no rosto… Algumas estavam ali pelo tráfico, para poder levar comida pra dentro de casa, outras que cometeram algo ilícito por causa dos seus companheiros, outras que furtaram pra tentar levar comida pra casa… 

É indignante ver tantas mulheres presas por não ter cometido nada ou por terem cometido delitos simples.  Recentemente tivemos esse caso da mulher que foi presa por menos de R$ 22… No final, quando ela foi solta, ela tem uma frase impactante. Ela diz que só queria ser gente. Olha quanto o sistema faz a gente se diminuir. É deprimente você estar dentro de um quadrado sem saber se vai sair. Essas mulheres saem de lá sem nenhuma perspectiva de vida. 

A diferença de mim pras outras Gessicas é que naquele momento eu tive amparo, tive apoio de mídias independentes e advogados, pessoas que queriam me ouvir e lutaram para eu não estar ali. Mesmo com todo esse apoio eu fui presa. Imagina quem passar 3, 4 anos sem o direito de abrir a boca?

E tinha também a “meritocracia”, que existe também dentro do sistema carcerário. As pessoas dizem que todo mundo é igual perante a lei. Não é. Se você é preto, pardo, pobre, gordo, se é considerado “feio”, você é tratado com diferença dentro do sistema penitenciário. Se você for uma mulher branca, cabelos lisos, loira, olhos azuis, você é tratada de forma diferente, como eu vi acontecer lá dentro”. 

”Mãe, meu pai tá preso, né?”

“Já presa, minha mente estava em primeiro lugar na minha filha, porque ela dorme comigo, é o meu xodó. Em segundo lugar, no meu esposo. Porque onde eu estava eu fui acolhida, fui recebida com carinho. As outras mulheres presas me deram cobertor, colchão, dividiram sua comida, me trataram com total respeito. Eu fiquei me perguntando se meu esposo teve esse mesmo acolhimento preso. 

Quando eu saí, a minha filha me abraçou e perguntou onde eu estava. Eu disse que tinha saído para resolver uns assuntos. Mas com o passar dos dias ela começou a sentir muita carência do pai dela e perguntar onde ele estava e eu dizia que ele precisou viajar pra resolver alguns assuntos. Até que um dia ela me perguntou:”mãe, meu pai tá preso, né?”. Eu disse que não, mas ela insistiu e nesse momento eu caí no choro. Nesse momento ela me abraçou e disse: “Mãe, não chora, a Aisha tá aqui, a Aisha vai cuidar de você”.

Depois que o Paulo saiu a gente tentou se manter mais reservado, afastado das redes sociais, tentando dar atenção pra Aisha, porque eu fiquei presa 2 dias, mas ele ficou 14 dias e durante esse processo você não dá tanta atenção pra criança, porque tinha que ficar pra lá e pra cá. Durante esse período o meu nível de estresse estava muito alto, eu não estava conseguindo dormir, estava chorando demais com toda essa preocupação. Eu não queria transmitir pra Aisha tudo isso, mas ao mesmo tempo você vai deixando muito a desejar, porque você para de dar atenção como antes, então ela ficou sentida…

Quando ele saiu procuramos ficar mais unidos do que já somos, dar toda atenção, carinho e amor pra ela e não tocamos muito no assunto. Teve momentos que ela questionou onde ele estava, perguntou do cabelo (que foi raspado), mas um hora esse momento vai chegar, quando ela tiver mais entendimento, de explicar pra ela o que aconteceu”. 

Escravidão moderna

“O que foi passado pra mim foi que o meu processo seria arquivado, mas o contra o Paulo continua. Muita gente me aconselhou entrar com processo contra o Estado por danos morais, por conta da prisão arbitrária e ilegal, porque eu fiquei dois dias longe da minha casa por algo que eu não tive participação ou conhecimento. Mas eu não sei. O que eu oro é para que o processo contra ele e os demais seja arquivado. 

Pra mim foi muito humilhante ver meu esposo algemado, um pai de família que não cometeu um crime brutal, bárbaro, passar por aquilo. Isso me deixou muito revoltada e pensativa sobre a necessidade de reformular nossas leis e rever os casos de pessoas que estão presas aguardando julgamento. Tem gente que tá lá há 5 anos. O Estado não devolve 5 anos, sem contar que deixa sequelas, deixa marcas, tristeza. 

Eu não enxergo o sistema carcerário como portas abertas de reabilitação, de transformação, de mudança, de ressocialização. Eu enxergo o sistema carcerário como porta do inferno, onde você entra em traumas profundos que ninguém pode retirar. Porque a gente sai de lá marcado. Quando existia a escravidão os negros eram marcados pelos donos da fazenda; hoje os negros são presos e saem de lá marcados, porque a ficha continua suja. Você não tem direito à mudança de vida, de ter um emprego digno, de recomeçar”.




Fonte: IG Mulher

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Neste domingo, escritora alegretense será entrevistada na TV Cultura

Escritora Eliana Rigol aborda a história oculta das mulheres no Café Filosófico .Programa da TV Cultura vai ao ar no próximo domingo, dia 3, às 19h

A escritora gaúcha Eliana Rigol será a convidada do próximo Café Filosófico, que vai ao ar no domingo, dia 3, às 19h, na TV Cultura. No programa, ela irá abordar o tema da história oculta das mulheres, como parte da série “Novas mulheres, antigos papeis”, gravada em maio, no Instituto CPFL, em Campinas (SP), com curadoria da historiadora e roteirista Luna Lobão.

Para Eliana, que atualmente vive em Barcelona, na Espanha, foi uma honra ter sido convidada a subir no palco de um programa do qual sempre foi fã, mas onde, normalmente, só via homens sendo entrevistados. “Foi uma alegria genuína estar representando tantas e tantas mulheres no Brasil e no mundo que não tiveram momento para fala e escuta nesse mundo desenhado por homens e para homens”, conta.

Nascida em Alegrete, Eliana já morou em São Paulo, Toronto e Lisboa. Advogada de formação e escritora por vocação, ela atua com mentoria de mulheres (Jornada da Heroína) Ela é autora de quatro livros: Moscas no Labirinto (Pergamus, 2015), indicado ao Prêmio AGES, Afeto Revolution, finalista do Prêmio Jabuti, Herstory e Parir é sexual, os três últimos publicados pela editora Zouk, de Porto Alegre.

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Com o objetivo de garantir bem-estar e dignidade às pacientes com câncer de mama, o deputado Gustavo Victorino protocolou, na Assembleia Legislativa, Projeto de Lei 350/23 que estabelece prazo para procedimentos cirúrgicos e garante acompanhamento às mulheres em tratamento.

A proposta determina o limite de 30 dias para substituição do implante mamário sempre que ocorrerem complicações inerentes à cirurgia de reconstrução da mama, bem como garante o acompanhamento psicológico e multidisciplinar especializado às pacientes que sofrerem mutilação total ou parcial de mama decorrente do tratamento de câncer.

Conforme o parlamentar, a proposição, que modifica o Estatuto da Pessoa com Câncer no Rio Grande do Sul (Lei nº 15.446/20), é um direito previsto na Lei Federal (no 14.538/2023), garantindo assim, um cuidado integral e humanizado à saúde da mulher: “Física e emocionalmente, o câncer de mama é devastador para a mulher e é nessa hora que o suporte médico e psicológico deve se fazer presente”, pontua o deputado Gustavo Victorino.

 

Crédito: Paulo Garcia Agência ALRS

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