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BBB 22: Calada vence? Não se você for uma mulher negra


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Brunna Gonçalves
Reprodução/BBB

Brunna Gonçalves


Por causa do racismo estrutural que constituiu a identidade nacional das Américas e do Brasil, a mulher negra é constantemente alvo de estereótipos, tais como a “mulata tipo exportação”, a mãe preta ou a mulher negra raivosa/arrogante/difícil . Isso se reflete quando observamos pesquisas acadêmicas ou dados de instituições de pesquisa e vemos que o resultado disso são a solidão da mulher negra , a pouca presença de mulheres negras em cargos de comando e sua maioria em ocupações precarizadas (como o trabalho de empregada doméstica) e a deterioração da saúde mental da população preta em geral, entre outros.


Constantemente essas questões são individualizadas, como se o problema fosse de uma mulher negra particularmente difícil, e não uma estrutura que nos permite inseri-las dentro desses dados. Isso porque quando falamos de mulheres, em geral pensamos em mulheres brancas. A elas é permitida a individualidade, enquanto a mulher negra em geral é cobrada para ser o modelo de representação de todo um grupo de pessoas. Nesse sentido, apontar o racismo estrutural é tomado como exagero, paranoia ou mimimi, enquanto uma conduta que não tome posição sobre esses temas faz com que essa mulher seja classificada como equivocada ou pouco consciente politicamente.

Não precisa ser um acadêmico na área de gênero e raça para verificar isso. Basta assistir ao BBB. Na edição do ano passado, o BBB 21 trouxe um elenco com a maior quantidade de pessoas negras até aquele momento no programa. O que a princípio animou influenciadores pretos e páginas de jornalismo voltado para a questão racial, acabou se tornando num transtorno. Ao descobrir que nem todas as pessoas negras compartilham da mesma visão política e que discordam entre si como quaisquer pessoas, logo surgiram os comentários de que “os próprios negros não se unem”. 

Karol Conká foi “cancelada” pela internet e perdeu seguidores e contratos de trabalho . Mas para o público do BBB isso não era o suficiente. Era preciso fazer com que ela saísse com recorde de rejeição, assim como outros participantes negros do reality: Nego Di, Projota e Lumena. Esta última, alvo de chacota pelo excessivo uso de linguagem militante – quem não se lembra do meme “Lumena autorizou” ou “ressignificar a informação”?. 

Nessa edição três pessoas negras foram longe: Gil do Vigor (considerado claro demais para ser negro por colegas de confinamento) Camilla de Lucas e João Luiz Pedrosa. Sobre esses últimos, diante da situação de racismo vivenciada por João, o modo como eles reagiram diz muito sobre sua permanência na casa: chorando escondido e sem elevar a voz contra a agressão, ambos se comportaram de modo aceitável,na condição de vítimas. 

O sofrimento de Camila e João teve repercussões fora da casa. Ludmilla, casada com Brunna Gonçalves, ao se apresentar em uma festa na casa falou de respeito . Brunna, por sua vez, apareceu com os cabelos naturais, sem as laces, que são sua marca registrada. 

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Mas passemos ao BBB 22 e suas participantes negras. Na primeira semana de reality Natália Deodato foi notícia fora da casa duas vezes.  Primeiro por ter dado um declaração um tanto romantizada sobre a escravidão e depois, por conta de um vídeo íntimo vazado. Chegando a um mês de programa Natália se tornou assunto por ter sido preterida por Lucas após uma tarde de troca de carinhos na piscina . Ele disse que não queria ficar com ninguém no programa e mais tarde beijou Eslovênia, com quem formou um casal desde então. 

Natália, sentindo a solidão da mulher negra mais uma vez, reagiu com choro e raiva, o que foi visto como exagerado e criticado fora da casa. No entanto, quando Jade Picon explicou às outras colegas brancas de confinamento do que se tratava aquela explosão de sentimentos, foi automaticamente considerada “fada sensata”, título que costuma ser dado a qualquer mulher branca dentro dos padrões de beleza que diz o óbvio.

Por fim, Natália esteve no centro dos comentários sobre o BBB ao ser agredida por Maria – outra mulher negra – em uma dinâmica, o Jogo da Discórdia . Antes de receber o golpe do balde na cabeça, Natália foi classificada pela maioria das pessoas como arrogante, difícil, agressiva. Com a expulsão de Maria, ela, agora ocupando a posição de vítima, cresceu na preferência do público e escapou da eliminação, não sem se sentir culpada por tirar a oportunidade de outra mulher preta seguir no programa. 

Esta semana, Brunna Gonçalves foi indicada ao “paredão”. Considerada “planta”, como são chamados os participantes considerados pouco expressivos no jogo, Brunna conta com o apoio de sua esposa Ludmilla para permanecer na casa . E neste ponto chegamos ao título deste texto: calada vence? Ludmilla acertou em cheio quando disse que prefere que Brunna seja planta, já que o lugar reservado para as mulheres negras tende a ser o de agressora/raivosa/arrogante ou de vítima.


Escrevo esse texto no dia em que Brunna pode deixar o reality, preocupada com o fato de que uma mulher negra calada está errada, já que Brunna tem sido apontada nas enquetes sobre o programa como provável eliminada da semana. Afinal, o que há de ruim em ser planta? Se posicionar, como Lumena, faz com que você seja considerada chata, arrogante, raivosa. Não demonstrar domínio sobre a história negra, como Natália, te faz ser alvo de críticas na internet.

Confrontos abertos como o de Karol resultam em recorde de rejeição. Sair de cena e chorar no privado, como fez Natália, resultam em outro tipo de crítica. A indicação de Brunna e sua possível eliminação mostra que nem sempre “calada vence”. Porque mulher preta existindo é um alvo e precisa provar que merece estar onde estar. Isso cansa. Isso doi. Isso é racismo.

Fonte: IG Mulher

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Neste domingo, escritora alegretense será entrevistada na TV Cultura

Escritora Eliana Rigol aborda a história oculta das mulheres no Café Filosófico .Programa da TV Cultura vai ao ar no próximo domingo, dia 3, às 19h

A escritora gaúcha Eliana Rigol será a convidada do próximo Café Filosófico, que vai ao ar no domingo, dia 3, às 19h, na TV Cultura. No programa, ela irá abordar o tema da história oculta das mulheres, como parte da série “Novas mulheres, antigos papeis”, gravada em maio, no Instituto CPFL, em Campinas (SP), com curadoria da historiadora e roteirista Luna Lobão.

Para Eliana, que atualmente vive em Barcelona, na Espanha, foi uma honra ter sido convidada a subir no palco de um programa do qual sempre foi fã, mas onde, normalmente, só via homens sendo entrevistados. “Foi uma alegria genuína estar representando tantas e tantas mulheres no Brasil e no mundo que não tiveram momento para fala e escuta nesse mundo desenhado por homens e para homens”, conta.

Nascida em Alegrete, Eliana já morou em São Paulo, Toronto e Lisboa. Advogada de formação e escritora por vocação, ela atua com mentoria de mulheres (Jornada da Heroína) Ela é autora de quatro livros: Moscas no Labirinto (Pergamus, 2015), indicado ao Prêmio AGES, Afeto Revolution, finalista do Prêmio Jabuti, Herstory e Parir é sexual, os três últimos publicados pela editora Zouk, de Porto Alegre.

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Câncer de Mama: Proposta estabelece prazo para substituir implantes mamários

 

Com o objetivo de garantir bem-estar e dignidade às pacientes com câncer de mama, o deputado Gustavo Victorino protocolou, na Assembleia Legislativa, Projeto de Lei 350/23 que estabelece prazo para procedimentos cirúrgicos e garante acompanhamento às mulheres em tratamento.

A proposta determina o limite de 30 dias para substituição do implante mamário sempre que ocorrerem complicações inerentes à cirurgia de reconstrução da mama, bem como garante o acompanhamento psicológico e multidisciplinar especializado às pacientes que sofrerem mutilação total ou parcial de mama decorrente do tratamento de câncer.

Conforme o parlamentar, a proposição, que modifica o Estatuto da Pessoa com Câncer no Rio Grande do Sul (Lei nº 15.446/20), é um direito previsto na Lei Federal (no 14.538/2023), garantindo assim, um cuidado integral e humanizado à saúde da mulher: “Física e emocionalmente, o câncer de mama é devastador para a mulher e é nessa hora que o suporte médico e psicológico deve se fazer presente”, pontua o deputado Gustavo Victorino.

 

Crédito: Paulo Garcia Agência ALRS

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Bolsonaro sanciona lei de enfrentamento à violência contra às mulheres

Está publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (5), a Lei 14.330/22 que inclui o Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher como instrumento de implementação da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social.

A norma determina a previsão de ações, estratégias e metas específicas sobre esse tipo de violência que devem ser implementadas em conjunto com órgãos e instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal, responsáveis pela rede de prevenção e de atendimento das mulheres em situação de violência.

Depois de passar pela Câmara, o texto foi aprovado pelo Senado em março, como parte da pauta prioritária da campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.

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