Saúde
Covid-19: Por que imunidade coletiva pode ser ‘utopia’ com variantes
Carlos Serrano (@carliserrano) – BBC News Mundo
O termo “imunidade coletiva” apareceu já nos primeiros meses da pandemia de covid-19, em 2020.
Ela é alcançada quando um número suficientemente grande de pessoas já tiveram determinada doença e desenvolveram anticorpos ou quando um percentual significativo da população foi vacinada.
Nessas condições, a probabilidade de que um agente infeccioso continue circulando na população diminui consideravelmente, levando à extinção de eventuais surtos (ou pandemias).
Os números exatos variam conforme o micro-organismo. Algumas doenças exigem um percentual de imunidade – adquirida naturalmente ou conquistada por meio de vacinas – maior do que outras.
A covid-19 tem se mostrado um desses casos mais complexos. Mesmo com programas de vacinação em curso, o vírus Sars-CoV-2 segue circulando em algumas regiões.
Não se pode dizer que a chamada “imunidade de rebanho” tenha sido alcançada e, segundo especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviço em língua espanhola da BBC, vários são os fatores que tornam improvável que ela o seja.
Independentemente do cenário futuro, contudo, especialistas ressaltam que a vacinação e as medidas de controle continuam sendo ferramentas poderosas para se avançar na luta contra a covid-19.
Conheça, a seguir, algumas das razões citadas pelos especialistas que avaliam que a imunidade coletiva contra covid-19 pode ser uma “utopia”.
A evolução do vírus
Nos dois anos de pandemia, o Sars-CoV-2 evoluiu para variantes que, em alguns casos, permitiram que o vírus se tornasse mais contagioso e um pouco mais resistente às vacinas.
O exemplo mais claro é a variante delta, que demonstrou ser pelo menos duas vezes mais transmissível do que o vírus original.
Quanto à ômicron, os primeiros estudos apontam que ela pode ter maior capacidade de escapar à imunidade.
Até o momento, as vacinas têm se mostrado eficazes na redução significativa do risco de desenvolver uma forma grave da doença e do risco de morte.
Pessoas vacinadas, contudo, podem contrair o vírus e transmiti-lo a outras pessoas, ainda que em menor grau do que as pessoas não vacinadas.
Esse é o primeiro fator complicador.
“Com as vacinas que temos, mesmo que reduzam a transmissão, o conceito de imunidade de rebanho não faz sentido”, diz Salvador Peiró, médico especialista em saúde pública e pesquisador em farmacoepidemiologia da FISABIO, organização espanhola de fomento à pesquisa.
Com as taxas de transmissão observadas com a ômicron, ele acrescenta, a ideia faz ainda menos sentido. Assim, embora as vacinas salvem vidas, elas não conseguem impedir que o vírus continue circulando, mesmo que em menor escala.
E o fato de o vírus continuar circulando gera uma segunda complicação: como segue sendo transmitindo, existe a possibilidade de surgirem novas variantes mais contagiosas, que produzam sintomas mais graves ou driblem o efeito das vacinas.
“Qualquer lugar com grande número de infecções, sejam em vacinados ou não, é uma fonte potencial de novas variantes”, pontua Caroline Colijn, pesquisadora em epidemiologia e evolução de patógenos da Universidade Simon Fraser em Vancouver, no Canadá.
Colijn recorda que o Sars-CoV-2 também infecta animais – assim, outras espécies podem atuar como uma “reserva” do vírus até que, em algum momento, ele seja reintroduzido em humanos.
Proteção decrescente
Outro fator relevante é o fato de que a imunidade adquirida com a vacina ou após o contato com o vírus diminui com o tempo, conforme indicado pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, o CDC.
De acordo com Shabir A. Madhi, reitor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, a resposta imunológica após uma infecção ou a vacinação dura entre seis e nove meses.
Mas esse período pode mudar diante do surgimento de novas variantes – por isso estão sendo aplicadas doses de reforço em diversos países.
Vacinação desigual
E há a questão da distribuição desigual das vacinas.
Em países como Estados Unidos e Reino Unido, cerca de 70% da população já está vacinada com duas doses. Globalmente, contudo, pouco mais da metade da população recebeu pelo menos uma dose.
Nos países de renda mais baixa, apenas 6,3% receberam uma dose, de acordo com as informações da plataforma Our World in Data.
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Isso aumenta o risco de que o vírus continue a se espalhar e que novas variantes potencialmente perigosas surjam.
“Não vamos superar isso vacinando os países ricos a cada 6 meses”, diz Colijn.
“É extremamente importante ter uma visão global e garantir que as vacinas estejam disponíveis e sejam usadas em todas as partes do mundo.”
Em essência, é inútil que um país esteja totalmente protegido enquanto outras regiões do mundo permanecem vulneráveis, porque o vírus não respeita fronteiras.
Utopia
“A imunidade de rebanho para covid-19 é uma utopia”, afirma o Mauricio Rodríguez, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
Segundo ele, a imunidade coletiva se aplica a grupos pequenos ou delimitados.
“O problema da covid é que ela está presente em todas as faixas etárias, em todas as populações, em todos os lugares, o tempo todo”, completa.
Qual é a saída?
Segundo os especialistas consultados pela reportagem, em vez de se aspirar à supressão total do vírus, os esforços deveriam ser voltados para que o mundo se habitue a conviver com o vírus, sem que ele represente uma ameaça grave para a humanidade.
O objetivo é que se torne um vírus endêmico, ou seja, continue circulando na população, mas em um nível considerado administrável.
Chegar a esse ponto é o que Peiró chama de “ter um controle funcional da pandemia”.
“Não se trata de eliminar todos os casos, o que esperamos é ter um quadro com pouquíssimos casos graves”, afirma o especialista.
“Não é que as pessoas não sejam infectadas, é que os hospitais não se encham de casos graves.”
Peiró diz que a ideia é que a covid se pareça cada vez mais com um resfriado.
“O sucesso da pandemia é ver os hospitais vazios de casos de covid.”
Imunidade na prática
Colijn, por sua vez, concorda que é improvável se atingir uma imunidade coletiva, mas afirma que é possível obter uma “imunidade coletiva na prática”.
Isso significa que, se as vacinas forem aplicadas de forma massiva e equitativa, níveis quase normais de atividade podem ser alcançados, sem a necessidade de medidas mais radicais, como os lockdowns.
“Temos que pensar em quais medidas estamos dispostos a manter para sempre, talvez algumas dessas medidas sejam o uso de máscaras ou testes rápidos.”
“Parar de ver nossos amigos ou familiares provavelmente não é uma dessas medidas, não podemos fazer isso para sempre.”
Para se alcançar essa “imunidade de rebanho na prática” e o “controle funcional da pandemia”, os especialistas concordam que é importante priorizar os grupos mais vulneráveis nas campanhas de vacinação.
A ideia é garantir que o maior número possível de pessoas fique protegida contra doenças graves.
“As vacinas nos permitiram combater a pandemia quase sem restrições”, diz Peiró. “Em outras circunstâncias, estaríamos todos trancados, com mais mortes e mais internados. Mas estamos enfrentando a Delta com tudo aberto, isso graças às vacinas.”
Esse cenário de combinação da vacinação massiva e igualitária manutenção dos cuidados se aproxima da fase em que a pandemia parece estar entrando.
“Estamos em uma fase de transição, passando de um estágio de emergência para um estágio endêmico, que é quando o vírus estará circulando com mais regularidade”, diz Rodríguez.
“Não devemos entrar em pânico, temos que aprender a conviver com o vírus.”
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Saúde
O perigo que vem da China. Infectologistas recomendam precaução contra Metapneumovírus
Sem vacina para HMPV, medidas como uso de máscaras e higiene são essenciais, dizem especialistas
Um surto de Metapneumovírus Humano (HMPV) foi identificado na China, levantando preocupações devido ao aumento de casos em algumas regiões do país.
Este vírus, responsável por sintomas como febre, tosse e congestão nasal, foi reportado nesta 3ª feira (08 de jan. de 2025). Apesar das preocupações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas em infectologia descartam a possibilidade de uma nova pandemia no momento.
A OMS comunicou que mantém contato constante com as autoridades chinesas, que têm tranquilizado tanto a população quanto a comunidade internacional.
As informações indicam que a intensidade e a escala da doença são inferiores às de anos anteriores. O governo de Pequim adotou um novo protocolo de monitoramento para gerenciar a situação.
Segundo a infectologista Emy Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, a circulação do HMPV é comum, especialmente durante o inverno no hemisfério norte. Ela destacou a ausência de vacinas contra o HMPV e recomendou medidas preventivas como distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos.
“Não existe um antiviral específico, e o tratamento para o paciente em casa consiste em medicamentos sintomáticos, repouso e hidratação,” afirmou Gouveia.
O HMPV foi identificado pela primeira vez em 2001 na Holanda, embora já circulasse antes dessa data. No Brasil, o vírus foi detectado em crianças menores de três anos em Sergipe, em 2004.
Gouveia observou que as mutações do HMPV são mais estáveis e raras em comparação com a Covid-19, o que facilita a gestão da doença.
A transmissão do HMPV ocorre por vias aéreas e contato com secreções contaminadas. O período de incubação varia de cinco a nove dias. Estudos indicam que a maioria das crianças até cinco anos já teve contato com o vírus.
Gouveia também alertou sobre o risco do HMPV em agravar doenças pulmonares pré-existentes, especialmente em crianças, devido à inflamação prolongada e hiperprodução de secreção.
Saúde
Saquinhos de chá liberam milhões de microplásticos, alerta estudo
Pesquisa internacional mostra contaminação por plásticos em chás e possíveis impactos na saúde humana
Pesquisadores do projeto PlasticHeal, em colaboração com a Universitat Autònoma de Barcelona (UAB) e o Centro Helmholtz de Investigação Ambiental de Leipzig, Alemanha, descobriram que bolsitas de chá comerciais liberam milhões de microplásticos e nanoplásticos (MNPL) nas infusões.
Este estudo, divulgado em 03.jan.2025, revela que essas partículas podem penetrar nas células intestinais humanas e potencialmente alcançar a corrente sanguínea, destacando a necessidade de abordar a contaminação por plásticos em produtos de consumo diário.
A pesquisa focou em bolsitas de chá feitas de polímeros como nailon-6, polipropileno e celulose. Os resultados mostraram que o polipropileno foi o material que mais liberou partículas, com aproximadamente 1.200 milhões por mililitro de infusão.
As técnicas analíticas avançadas utilizadas incluíram microscopia eletrônica de barrido (SEM), microscopia eletrônica de transmissão (TEM), espectroscopia infravermelha (ATR-FTIR), dispersão dinâmica de luz (DLS), velocimetria laser Doppler (LDV) e análise de seguimento de nanopartículas (NTA), afirmou Alba García, investigadora da UAB.
O estudo também observou a interação dessas partículas com células intestinais humanas, descobrindo que as células produtoras de muco absorvem uma quantidade significativa desses MNPL, que podem inclusive penetrar no núcleo celular.
Isso sugere um papel crucial do muco intestinal na absorção dessas partículas e ressalta a necessidade de investigar mais a fundo os efeitos da exposição crônica a MNPL na saúde humana.
Os pesquisadores enfatizam a importância de desenvolver métodos padronizados para avaliar a contaminação por MNPL em materiais plásticos em contato com alimentos e a necessidade de políticas regulatórias para mitigar essa contaminação.
Saúde
Alegrete convoca doadores para enfrentar escassez de sangue O-
Com estoque crítico, Hemocentro de Alegrete organiza coleta externa e estende horários para receber doações
O Hemocentro Regional de Alegrete enfrenta uma situação crítica em seu estoque de sangue, com especial urgência para o tipo O-. A instituição possui apenas uma unidade disponível e busca atender às crescentes demandas por transfusões.
A crise levou ao pedido de auxílio ao Hemocentro de Santa Maria, que foi solicitado a enviar mais bolsas de sangue. A situação foi divulgada nesta 4ª feira (26 de dezembro de 2024), com o objetivo de mobilizar a comunidade para doações urgentes.
Fernanda Soares, assistente social do Hemocentro, destacou a necessidade de doações. “Devido à alta demanda por sangue do tipo O- e outras tipagens, foi lançada uma campanha de urgência para mobilizar doadores a comparecerem ao hemocentro e realizarem suas doações,” afirmou.
A meta é alcançar dez unidades até o final da manhã de 6ª feira (27 de dezembro de 2024).
Para facilitar o acesso dos doadores, o Hemocentro de Alegrete manterá o atendimento normal nesta 5ª e 6ª feira. Uma coleta externa está programada para a próxima 2ª feira (30 de dezembro de 2024) na cidade de Itaqui. “Fazemos um apelo para que a população se dirija ao Hemocentro de Alegrete e contribua com as vidas que dependem dessas doações,” reforçou Soares.
Localizado na Rua General Sampaio, 10, bairro Canudos, o Hemocentro opera das 7h às 13h. A necessidade de sangue do tipo O- é urgente devido à sua capacidade de ser transfundido em pacientes de qualquer tipo sanguíneo, o que o torna vital em emergências.
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