Mulher
A guerra não tem rosto de mulher; mas a mulher nunca é deixada em paz
1. Entre batons e fotos de comida no Instagram
Queria estar em paz escrevendo resenha de batom, um trabalho muito menos estressante que ser cientista política – e mais recompensador, pois me paga. Mas se o Brasil me obriga a beber, a qualidade dos comentários sobre Geopolítica na Internet brasileira me obriga a escrever. Mas escrever sobre Geopolítica não é tão fácil e recompensador quanto escrever sobre batom, embora eu saiba muito mais de política que de maquiagem. É que para falar de beleza e cosméticos faz sentido ir com a maré: usar, experimentar e falar sobre o que todo mundo tá usando. Em Política, não.
O brasileiro adora torcer para alguém, principalmente se tiver uma treta envolvida. Amamos uma rivalidade e queremos participar. Pegamos aquela rivalidade marota entre clubes de futebol, entre cidades ou entre fandom de cantora pop ou participante de reality show e levamos às últimas consequências – a ponto de tomar decisões sérias relacionadas à saúde com base no lado pro qual torcemos. Não é por acaso que no jornalismo de entretenimento inventamos o verbo “se posicionar”, que significa basicamente tomar partido ou dar explicação por algo. Geralmente uma treta.
Agora me diz: tem treta maior do que uma guerra com potencial para destruir o mundo?
Como eu ia dizendo, eu dei aula de Geopolítica durante 5 anos. E desde que deixei as salas de aula, sempre tento me confortar, dizendo pra mim mesma que pelo menos eu não tenho que encarar uma sala de 50 jovens de 20 poucos anos esperando que eu dê conta de explicar esse rebosteio todo aí, não.
Mas essa parte até que é fácil. A gente explica que os fenômenos políticos temos que levar em conta diversas variáveis e informações e mesmo assim a nossa conclusão não será uma totalidade, mas algo que passa por vários filtros que incluem sua socialização, sua formação acadêmica, visão política, etc, então devemos considerar qualquer análise é uma fotografia: uma imagem cristalizada no tempo, obtida a partir de um ângulo e lentes específicas. Então eu nem fico incomodada com a imensa quantidade de especialistas surgidos na semana passada. O que me incomoda é que as fotos são todas iguais. Sabe quando você entra no Instagram e só tem foto de comida ou todas as fotos com glitter possuem a legenda “minha carne é de carnaval”?
Dito isto, o que me interessa, não é o que falamos ao pensar em guerra e sim o fato de que os recortes e enquadramentos são muito parecidos entre si e há todo um universo fora do quadrinho capturado que me interessa, mas que só posso conhecer depois de delimitar as bordas do quadro.
2. Jogos de poder
No final da década de 1990 foram produzidas múltiplas hipóteses muito parecidas entre si que se preocupavam de como seria a recomposição de forças no mundo pós Guerra Fria. Entre Fim da História (Fukuyama, 1993), Choque de Civilizações (Huntington, 1994), discussões sobre o paradoxo do poder americano (Nye, 2002) ou mesmo seu declínio (Wallerstein, 2004), uma das análises mais famosas da época era a de Brzezinski (1997), que definia a Eurásia como um “grande tabuleiro de xadrez”. No epílogo da bipolaridade, assegurar a influência/controle sobre a área seria fundamental para a redefinição do poder no mundo.
Leia Também
Neste caso, o que aparece mais é a metáfora do jogo do que o jogo em si. O xadrez é um jogo em que um peão pode derrubar o clero, o exército e as instituições de Estado, mas nos lembra que as autoridades não só possuem maiores possibilidades de movimentação, como eles são tudo o que importa no jogo. Ninguém se importa com a perda do peão; sacrificar a rainha, isso sim é digno de nota.
Mas nós não olhamos pra política como quem olha pra um jogo de xadrez. A gente nem sabe jogar xadrez. Porém sabemos jogar War. Aquele jogo de tabuleiro em que jogamos dados e movimentamos exércitos a fim de estabelecer domínios em certas regiões para vencer, de acordo com os objetivos secretos dados a cada jogador no começo da partida. O que essas duas formas de olhar para a política, por meio de um jogo mais complexo e outro mais simples, tem algumas coisas em comum: olhamos pro mapa mundi como uma série de objetivos a serem conquistados. Na vida real, há pessoas por onde passam os exércitos em busca de assegurar controle, órbitas de influência e cumprir objetivos.
3. A guerra não tem rosto de mulher. E nem por isso a mulher tem paz.
Foi também no pós Guerra Fria que as questões de gênero na geopolítica começaram a tomar corpo no âmbito das organizações internacionais – a despeito da História, Arte e Mitologia das civilizações ocidentais retratarem desde os gregos a guerra como momentos em que as mulheres eram estupradas, capturadas e consideradas parte dos espólios de guerra.
Para além da visão dos conflitos bélicos como jogos de xadrez, de War ou como a Copa do Mundo – na qual geralmente escolhemos a seleção de um país que simpatizamos, mas do qual sabemos pouco ou nada, para torcer – em situações de conflitos armados as mulheres enfrentam agressões diretamente relacionadas ao gênero: estupro, escravidão e mutilações sexuais, esterilização, abortos precários, gestações e prostituição forçadas. Em contextos de guerra essas agressões podem vir dos exércitos estrangeiros, de grupos armados paramilitares, de forças de segurança internacional e de outros refugiados, do sexo masculino, por atores estatais e não-estatais. .
Estima-se que até 100 mulheres podem ter sido vítimas de violência sexual por soldados russos após a invasão de Berlim. No primeiro mês de invasão da China pelo Japão, em dezembro de 1937, 20 mil mulheres teriam sido vítimas de estupros seguidos de mutilações e assassinatos no episódio que ficou como “o estupro de Nanking”. Cerca de 200 mil mulheres foram submetidas à prostituição forçada na Coreia e em outros territórios ocupados pelo Japão. (TESCARI, 2018)
Contudo, a violência sexual contra mulher em situações de conflitos armados depois da Segunda Guerra e até a última década do século XX permaneceu tolerada, pouco discutida ou considerada parte do contexto. Foi só a partir da exposição da brutalidade contra mulheres nas guerras dos Bálcãs e de Ruanda que este quadro começou a mudar, pelo menos no âmbito das organizações internacionais.
Entre 1991 e 1993, o estupro sistemático de mulheres no território da antiga Iugoslávia era uma tática de terror para forçar os muçulmanos bósnio ao deslocamento. Nos campos de estupro, utilizados pelos dois lados do conflito, mulheres foram submetidas a estupros repetidos, gestações forçadas e detenções para impedir o aborto.
Segundo dados do Human Rights Watch, de 1996, durante a guerra de Ruanda,em 1994, a violência sexual contra mulheres foi utilizada de forma sistemática pela milícia Hutu, civis e soldados das Forças Armadas ruandesas com objetivo de destruir o grupo étnico tutsi. Mulheres hutus consideradas simpatizantes dos inimigos. Relatos de pessoas que estiveram em campos de refugiados mostram que praticamente todas as mulheres foram agredidas sexualmente
Em 1998, o Estatuto de Roma reconheceu os atos de agressão sexual e de gênero como crimes enquadrados pelo Direito Internacional e prevê a competência do Tribunal Penal Internacional para o julgamento da violência sexual como crime de guerra e crime contra a humanidade. Entretanto, isso não ocorreu sem as “controvérsias” comuns às sociedades em paz civil. Trata-se da dificuldade de discutir gênero em face às instituições religiosas e culturais.
Conforme cita Tescari (2018), o Vaticano, apoiado pela Liga dos Estados Árabes, tentou impedir que fossem incluídos no Estatuto de Roma a perseguição baseada no gênero e a gravidez forçada. Esse último item teve também o apoio de países islâmicos e de grupos conservadores dos Estados Unidos, que tentaram retirar do texto qualquer sugestão de que obstruir o acesso à interrupção da gestação forçada seria também um crime.
4. Mamãe, falei idiotices misóginas. De novo.
O que eu mais gosto de trabalhar com beleza e comportamento é que meu trabalho não precisa cotidianamente ser pautado por rebater cada asneira que sai pela boca de algum oportunista que entende minimamente como funciona a Internet. Se tem uma coisa que eu aprendi em todos os anos nessa indústria vital é que hate engaja e sempre que possível é melhor não bater palma pra maluco dançar. Trata-se de um princípio: prefiro destacar mulheres que rebater machistas que depois irão se regozijar com seus colegas ressentidos por ter deixado uma feminista pistola. Eu tenho muita resenha de batom pra escrever. Sem tempo, irmão.
“Elas são fáceis porque são pobres” é algo que faz parte do imaginário coletivo de todo país que possui turismo sexual. É uma frase que pode ser dita no Rio de Janeiro, nos interiores do Brasil, nas favelas, e no leste da Europa, onde o tráfico de mulheres e a prostituição forçada talvez sejam mais amplamente documentas que em outros locais. Mas antes de cair na tentação fácil de dizer que a frase provoca mais indignação porque essas mulheres são brancas, cabe lembrar que os europeus não se veem como brancos, assim como os africanos não se veem como negros e que essas definições guarda-chuva de agrupar etnias sob um guarda-chuva são úteis para entender questões de racismo estrutural, sobretudo em sociedades coloniais. Mas não servem pra absolutamente tudo e esse caso é um exemplo.
O pior não é mulheres em zona de guerra serem consideradas fáceis por serem pobres, mas serem estupradas por serem mulheres. O pior não é um comediante sem graça com mandato parlamentar sair daqui pra Ucrânia e passar vergonha em outro continente: é que isso esteja sendo feito com dinheiro público, com o salário que eu pago. Porque amanhã a polêmica do dia será substituída por outra e por outra e por outra.
O que me incomoda é que ao fixarmos numa asneira dita por um homem, esquecemos da violência cotidianamente por eles perpetrada, com ou sem guerra. Entre elas a perpetuação da ideia de que numa situação de guerra a mulher está protegida por ser minoria na linha de fogo; que o pior que pode nos acontecer é sermos consideradas fáceis.
Antes da guerra as mulheres russas estavam entre as que mais sofriam violência doméstica no mundo. Antes da guerra as mulheres da Ucrânia já conviviam com a possibilidade de se tornarem escravas sexuais e com o crescimento do neonazismo no país. A guerra pode não ter rosto, mas ela tem sangue de mulher e infelizmente isso não termina com as assinaturas de armistício, nem com bandeirinhas no perfil declarando torcida no Instagram.
Mulher
Neste domingo, escritora alegretense será entrevistada na TV Cultura
Escritora Eliana Rigol aborda a história oculta das mulheres no Café Filosófico .Programa da TV Cultura vai ao ar no próximo domingo, dia 3, às 19h
A escritora gaúcha Eliana Rigol será a convidada do próximo Café Filosófico, que vai ao ar no domingo, dia 3, às 19h, na TV Cultura. No programa, ela irá abordar o tema da história oculta das mulheres, como parte da série “Novas mulheres, antigos papeis”, gravada em maio, no Instituto CPFL, em Campinas (SP), com curadoria da historiadora e roteirista Luna Lobão.
Para Eliana, que atualmente vive em Barcelona, na Espanha, foi uma honra ter sido convidada a subir no palco de um programa do qual sempre foi fã, mas onde, normalmente, só via homens sendo entrevistados. “Foi uma alegria genuína estar representando tantas e tantas mulheres no Brasil e no mundo que não tiveram momento para fala e escuta nesse mundo desenhado por homens e para homens”, conta.
Nascida em Alegrete, Eliana já morou em São Paulo, Toronto e Lisboa. Advogada de formação e escritora por vocação, ela atua com mentoria de mulheres (Jornada da Heroína) Ela é autora de quatro livros: Moscas no Labirinto (Pergamus, 2015), indicado ao Prêmio AGES, Afeto Revolution, finalista do Prêmio Jabuti, Herstory e Parir é sexual, os três últimos publicados pela editora Zouk, de Porto Alegre.
Mulher
Câncer de Mama: Proposta estabelece prazo para substituir implantes mamários
Com o objetivo de garantir bem-estar e dignidade às pacientes com câncer de mama, o deputado Gustavo Victorino protocolou, na Assembleia Legislativa, Projeto de Lei 350/23 que estabelece prazo para procedimentos cirúrgicos e garante acompanhamento às mulheres em tratamento.
A proposta determina o limite de 30 dias para substituição do implante mamário sempre que ocorrerem complicações inerentes à cirurgia de reconstrução da mama, bem como garante o acompanhamento psicológico e multidisciplinar especializado às pacientes que sofrerem mutilação total ou parcial de mama decorrente do tratamento de câncer.
Conforme o parlamentar, a proposição, que modifica o Estatuto da Pessoa com Câncer no Rio Grande do Sul (Lei nº 15.446/20), é um direito previsto na Lei Federal (no 14.538/2023), garantindo assim, um cuidado integral e humanizado à saúde da mulher: “Física e emocionalmente, o câncer de mama é devastador para a mulher e é nessa hora que o suporte médico e psicológico deve se fazer presente”, pontua o deputado Gustavo Victorino.
Crédito: Paulo Garcia Agência ALRS
Mulher
Bolsonaro sanciona lei de enfrentamento à violência contra às mulheres
Está publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (5), a Lei 14.330/22 que inclui o Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher como instrumento de implementação da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social.
A norma determina a previsão de ações, estratégias e metas específicas sobre esse tipo de violência que devem ser implementadas em conjunto com órgãos e instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal, responsáveis pela rede de prevenção e de atendimento das mulheres em situação de violência.
Depois de passar pela Câmara, o texto foi aprovado pelo Senado em março, como parte da pauta prioritária da campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.
-
Cidade4 anos atrás
Cavalarianos desfilam pelas ruas do Alegrete em homenagem ao 20 de Setembro
-
Polícia4 anos atrás
Racismo em Alegrete. Idosa é gravada xingando com injúria racial
-
Manchete3 anos atrás
Jovem médica alegretense morre em acidente na 290
-
Polícia6 meses atrás
Acidente fatal faz vítima fatal mulher jovem de 28 anos
-
Esportes2 anos atrás
Pauleira em baile viraliza nas redes sociais
-
Polícia1 ano atrás
Advogada é surpreendida por depoimento de Emerson Leonardi
-
Cidade5 anos atrás
Folia e diversão no enterro dos ossos da descida dos blocos 2020
-
Polícia4 anos atrás
Atualizado. Carro com placas de Alegrete é esmagado por Scânia em Eldorado