Saúde
Covid-19: Como falar sobre vacinas com quem não quer se imunizar
David Robson – Da BBC Future
Quase um ano depois de o Departamento de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos aprovar as primeiras vacinas contra a covid-19, você provavelmente não precisa que eu lhe convença de sua eficácia. Enquanto escrevo este texto, mais de 4,28 bilhões de pessoas já receberam ao menos uma dose, o que significa 55,8% de toda a população mundial.
Apesar dessa enorme adoção, no entanto, também é provável que você conheça ao menos uma pessoa em sua família ou grupo de amigos que ainda não recebeu a vacina devido a uma escolha pessoal, não devido a pouca disponibilidade do imunizante. Essas pessoas são frequentemente caracterizadas como sendo “antivacinas” que rejeitam a ciência — e às vezes ouvimos que qualquer tentativa de nos engajarmos em um debate com elas é apenas desperdício de voz.
A realidade, claro, é mais complexa. É certamente verdade que alguns comprometidos teóricos da conspiração estão dispostos a espalhar desinformação, mas esses grupos pequenos, mas altamente barulhentos, não representam a maioria das pessoas que que ainda não tomaram sua vacina.
Mesmo antes da pandemia de covid-19, a baixa confiança em vacinas em algumas partes do mundo era descrita por especialistas de saúde como uma “crise global”. Agora existem preocupações reais de que isso pode afetar os esforços para encerrar a pandemia. Há um certo tempo, pesquisadores vêm buscando maneiras de ajudar governos a persuadir pessoas ainda hesitantes em relação às vacinas. Não é surpresa alguma que não haja uma solução única, mas uma grande parte da estratégia é conversar e engajar pessoas que ainda relutam em se vacinar.
Na verdade, muitas pessoas relutantes estão simplesmente indecisas — e cientistas afirmam que conversar com elas pode ajudá-las a olhar para a evidências. E não são apenas governos e autoridades da área da saúde que podem fazer isso. “Dias sociais são crucialmente importantes”, diz John Cook, um cientista cognitivo da Universidade Monash, na Austrália. “Revelar nossos pontos de vista nas nossas redes sociais pode ser algo influente.”
Entretanto, se seus conhecidos dão ou não ouvidos a sua opiniões dependerá de seu estilo de diálogo — simplesmente não faz sentido reunir os dados se você apresentá-los da maneira errada.
Com base em múltiplos estudos sobre comunicação eficaz, eu produzi uma lista de conselhos baseados em evidências sobre quais as melhores formas de discutir a ciência por trás das vacinas – e o que deveria ser evitado.
- A ‘vacina’ contra fake news testada por pesquisadores de Cambridge
- Variante ômicron: por que 2 doses da vacina são insuficientes e reforço é necessário
1) Escolha suas batalhas
A primeira regra sobre comunicação eficaz — em qualquer área — é mirar o público certo. E pesquisas recentes sugerem que muitos de nós podem não estar prestando atenção exatamente às pessoas que poderiam responder bem a sua mensagem.
Um estudo recente de Christopher Bechler, professor assistente de marketing na Universidade de Notre Dame no Estado americano de Indiana, pesquisou atitudes de pessoas em relação a comportamentos como uso de máscara. Em um experimento, participantes receberam a chance de passar informações úteis sobre o tema para pessoas com uma ampla variedade de opiniões.
Os participantes tendiam a escolher aqueles com uma visão bastante negativa do assunto. Mas Bechler descobriu que a informação compartilhada tinha muito pouco impacto na opinião dessas pessoas. Em vez disso, a mensagem era mais eficaz ao fortalecer a posição daqueles que já eram, embora apenas levemente, a favor da máscara como medida de segurança. “Eles eram muito mais abertos à mensagem”, afirma o pesquisador.
As implicações para mensagens sobre vacinas é clara. “Nós preferiríamos mudar o ponto de vista de alguém de antivacina para pró-vacina”, diz Vanessa Bohns, psicóloga social da Cornell University e autora de You Have More Influence Than You Think (Você Tem Mais Influência do que Você Pensa). “Mas nós podemos ter um impacto maior falando com alguém que já esteja inclinado naquela direção.”
2) Seja humilde
A segunda regra da comunicação eficaz está ligada à humildade, enquanto tentamos entender o ponto de vista da outra pessoa. “É importante ter um diálogo de duas mãos, em que nós escutemos com empatia e genuinamente busquemos compreender quais são as objeções da outra pessoa”, afirma Cook, que recentemente foi coautor de um manual gratuito sobre comunicação a respeito da vacina contra a covid-19. “Tentar mudar a opinião de uma pessoa fazendo com que ela se sinta estúpida não é um caminho na direção do sucesso.”
Bohns concorda. Ela afirma que muitos de nós podemos também ter tido dúvidas — mas nós tendemos a esquecer esse fato assim que tomamos a decisão em favor da vacina. “Quando estamos tentando convencer uma outra pessoa, nós já estamos expressando essa certeza, o que torna muito difícil para nós encontrá-la no ponto em que ela está.”
Ela diz que seria muito mais eficaz reconhecer nossas preocupações iniciais e explicar como chegamos à decisão que acabamos tomando. “As pessoas reagem mal quando sentem que alguém as está julgando — e eu acredito que isso pode acontecer quando você expressa certezas demais”, afirma ela. “É a diferença entre dizer às pessoas o que elas deveriam fazer, em vez de dizer para elas o que nós fizemos e por quê.”
Em seu livro sobre persuasão, Bohns aponta para um estudo sobre mensagens sobre saúde, liderado por Ann Kronrod, da Universidade de Massachusetts Lowell. A equipe identificou que, ao fornecer conselhos, a maioria das pessoas tende a preferir mensagens muito assertivas, passadas como se fossem um comando. Quando recebem conselhos de outros, no entanto, muitos respondem muito melhor a sugestões mais leves.
Em um experimento, metade dos participantes ouviu o seguinte: “Fazer abdominais por cinco minutos por dia pode fortalecer seu abdômen. Você consegue!”. Os outros receberam um conselho mais assertivo: “Faça exercícios abdominais por cinco minutos ao dia. Fortaleça seu abdômen. Faça!”. Uma semana depois, a equipe de Kronrod perguntou aos participantes sobre sua atividade física.
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As pessoas que já estavam abertas à ideia de se exercitar tenderam a reagir bem às duas mensagens. Aqueles que já estavam resistentes, no entanto, responderam muito melhor à sugestão mais delicada, enquanto o comando com mais força os acabou desestimulando.
3) Estabeleça uma con ex ão pessoal
Quando nos engajamos nesse tipo de conversa e ouvimos ativamente o que a outra pessoa tem a dizer, você pode ver que as preocupações são em geral de cunho prático. Estudos recentes sugerem que a facilidade de acessar a vacina é um dos melhores indicadores de relutância. Se for esse o caso, você pode oferecer ajuda com potenciais barreiras, como marcar um horário para a pessoa se vacinar ou organizar transporte até o centro de saúde. Em outros casos, você pode identificar que existem mal-entendidos específicos a respeito de segurança ou eficácia sobre os quais você pode conversar.
Se você se encontrar numa conversa com alguém que é fortemente contrário à vacina, você pode achar mais eficiente enfatizar os benefícios individuais da imunização, de acordo com um estudo de Sinéad Lambe, uma psicóloga clínica pesquisadora da Universidade de Oxford.
Neste ano, a equipe de Lambe recrutou mais de 15 mil participantes online e mediu suas posturas iniciais em relação à vacinação. Cada participante recebeu então, aleatoriamente, uma informação sobre a vacina, lidando ou com questões de segurança, benefícios coletivos (como reduzir o risco de transmissão para outras pessoas) e crenças pessoais.
As informações incluíram declarações como: “Pegar o coronavírus pode abalar sua vida de forma grave… E você não pode ter certeza, mesmo se você for relativamente jovem e em forma, que você não ficará seriamente doente ou enfrentar dificuldades com problemas de longo prazo relacionados à covid: cerca de uma em cada cinco pessoas continuam doentes cinco semanas depois de contrair covid-19; uma em dez ainda têm sintomas três meses depois. A vacinação minimiza as chances de você ficar doente com covid-19, então você não precisará se preocupar sobre o que o vírus pode fazer com você…”
Os participantes foram então novamente medidos quanto a seus níveis de relutância à vacina.
No geral, a informação sobre benefícios pessoas provou ser a mais persuasiva para as pessoas que haviam expressado inicialmente o maior nível de relutância. Ela inclusive superou uma mensagem combinada que tentara explicar como as vacinas podiam ajudar tanto o indivíduo como outras pessoas.
Lambe afirma que ela inicialmente se surpreendeu com o resultado, mas ele combina com o que diziam estudos prévios, que sugeriram que pessoas relutantes em tomar a vacina tendem a ter menos confiança na sociedade. “Então elas podem se sentir levemente excluídas e podem ser menos inclinadas a ser motivadas pelos benefícios coletivos [das vacinas]”, diz Lambe.
4) Descreva os métodos por trás da desinformação
Ocasionalmente, você pode identificar que uma pessoa relutante em tomar a vacina foi iludida por alguma desinformação. É comum ouvir que testes clínicos foram apressados, por exemplo. Nesse tipo de situação, vale reconhecer que faz sentido questionar a qualidade de qualquer estudo científico, para então descrever o desenvolvimento de longo prazo da tecnologia da vacina em questão, que vinha sendo testada durante anos antes do surgimento da covid-19.
Você também pode explorar o tamanho dos testes com a vacina contra covid — que contou com dezenas de milhares de participantes — e o contínuo monitoramento de efeitos colaterais. Você pode também olhar para gráficos online para demonstrar os riscos de pegar covid-19 em comparação com os riscos de receber a vacina.
Em outros casos, pode ser útil explicar as táticas usadas para a propagação de desinformação. É comum, por exemplo, pessoas apresentarem falsas credenciais que façam seus argumentos parecer ter mais credibilidade — mesmo se elas não tiverem verdadeira experiência na área. Às vezes grupos de pressão criarão até mesmo pesquisas assinadas por muitos desses falsos especialistas para questionar a opinião científica predominante e criar uma ilusão de debate.
Ambas as táticas foram empregadas pela indústria do tabaco para minar a confiança nas cada vez maiores evidências científicas contra o cigarro. Mais recentemente, elas foram usadas para abalar o entendimento do público sobre as mudanças climáticas.
Quando se trata de covid-19 e as vacinas, alguns alegam ter uma compreensão de virologia e imunologia superior à dos verdadeiros especialistas — apesar de não terem nenhuma qualificação ou publicações científicas de credibilidade para dar suporte a suas visões alternativas.
Algumas das pessoas que você conhece podem também ter sido expostas a relatórios duvidosos que deliberadamente confundem correlação com causalidade. Quando mais de metade da população mundial foi vacinada, alguns daqueles que receberam a vacina inevitavelmente sofrerão de alguma outra doença, sem ligação alguma com a imunização. Essa tática é usada para sugerir que existem perigos escondidos na aplicação da vacina — sendo que os dados médicos sugerem que efeitos colaterais graves são incrivelmente raros.
É muito fácil ser enganado por mensagens que são preparadas dessa maneira. A pesquisa de Cook, no entanto, sugere que explicar esse tipo de técnicas enganosas pode ajudar a reduzir a crença da pessoa em desinformação, particularmente se ela ainda não formou uma opinião clara sobre um assunto. O método é às vezes chamado de “inoculação” ou “prebunking”, pois esse conhecimento ajuda a proteger a pessoa para que ela não caia em “fake news” semelhantes no futuro.
Não existe maneira totalmente certa de conseguir mudar opiniões sobre um assunto. Ao seguir essas quatro sugestões, porém, você pode ter conversas mais construtivas com as pessoas com que você se deparar. Se você for bem-sucedido em sua tentativa de corrigir seus mal-entendidos, elas podem depois persuadir outras pessoas. “Elas podem se tornar advogadas [da causa]”, afirma Bechler. Dessa forma, a própria verdade torna-se contagiosa.
* David Robson é um escritor científico baseado em Londres, Reino Unido. Seu próximo livro, The Expectation Effect: How Your Mindset Can Transform Your Life (O Efeito da Expectativa: Como Sua Postura Mental Pode Transformar Sua Vida) será publicado pela editora Canongate and Henry Holt no início de 2022. Está disponível para compra antecipada. Sua conta no Twitter é @d_a_robson.
Saúde
O perigo que vem da China. Infectologistas recomendam precaução contra Metapneumovírus
Sem vacina para HMPV, medidas como uso de máscaras e higiene são essenciais, dizem especialistas
Um surto de Metapneumovírus Humano (HMPV) foi identificado na China, levantando preocupações devido ao aumento de casos em algumas regiões do país.
Este vírus, responsável por sintomas como febre, tosse e congestão nasal, foi reportado nesta 3ª feira (08 de jan. de 2025). Apesar das preocupações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas em infectologia descartam a possibilidade de uma nova pandemia no momento.
A OMS comunicou que mantém contato constante com as autoridades chinesas, que têm tranquilizado tanto a população quanto a comunidade internacional.
As informações indicam que a intensidade e a escala da doença são inferiores às de anos anteriores. O governo de Pequim adotou um novo protocolo de monitoramento para gerenciar a situação.
Segundo a infectologista Emy Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, a circulação do HMPV é comum, especialmente durante o inverno no hemisfério norte. Ela destacou a ausência de vacinas contra o HMPV e recomendou medidas preventivas como distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos.
“Não existe um antiviral específico, e o tratamento para o paciente em casa consiste em medicamentos sintomáticos, repouso e hidratação,” afirmou Gouveia.
O HMPV foi identificado pela primeira vez em 2001 na Holanda, embora já circulasse antes dessa data. No Brasil, o vírus foi detectado em crianças menores de três anos em Sergipe, em 2004.
Gouveia observou que as mutações do HMPV são mais estáveis e raras em comparação com a Covid-19, o que facilita a gestão da doença.
A transmissão do HMPV ocorre por vias aéreas e contato com secreções contaminadas. O período de incubação varia de cinco a nove dias. Estudos indicam que a maioria das crianças até cinco anos já teve contato com o vírus.
Gouveia também alertou sobre o risco do HMPV em agravar doenças pulmonares pré-existentes, especialmente em crianças, devido à inflamação prolongada e hiperprodução de secreção.
Saúde
Saquinhos de chá liberam milhões de microplásticos, alerta estudo
Pesquisa internacional mostra contaminação por plásticos em chás e possíveis impactos na saúde humana
Pesquisadores do projeto PlasticHeal, em colaboração com a Universitat Autònoma de Barcelona (UAB) e o Centro Helmholtz de Investigação Ambiental de Leipzig, Alemanha, descobriram que bolsitas de chá comerciais liberam milhões de microplásticos e nanoplásticos (MNPL) nas infusões.
Este estudo, divulgado em 03.jan.2025, revela que essas partículas podem penetrar nas células intestinais humanas e potencialmente alcançar a corrente sanguínea, destacando a necessidade de abordar a contaminação por plásticos em produtos de consumo diário.
A pesquisa focou em bolsitas de chá feitas de polímeros como nailon-6, polipropileno e celulose. Os resultados mostraram que o polipropileno foi o material que mais liberou partículas, com aproximadamente 1.200 milhões por mililitro de infusão.
As técnicas analíticas avançadas utilizadas incluíram microscopia eletrônica de barrido (SEM), microscopia eletrônica de transmissão (TEM), espectroscopia infravermelha (ATR-FTIR), dispersão dinâmica de luz (DLS), velocimetria laser Doppler (LDV) e análise de seguimento de nanopartículas (NTA), afirmou Alba García, investigadora da UAB.
O estudo também observou a interação dessas partículas com células intestinais humanas, descobrindo que as células produtoras de muco absorvem uma quantidade significativa desses MNPL, que podem inclusive penetrar no núcleo celular.
Isso sugere um papel crucial do muco intestinal na absorção dessas partículas e ressalta a necessidade de investigar mais a fundo os efeitos da exposição crônica a MNPL na saúde humana.
Os pesquisadores enfatizam a importância de desenvolver métodos padronizados para avaliar a contaminação por MNPL em materiais plásticos em contato com alimentos e a necessidade de políticas regulatórias para mitigar essa contaminação.
Saúde
Alegrete convoca doadores para enfrentar escassez de sangue O-
Com estoque crítico, Hemocentro de Alegrete organiza coleta externa e estende horários para receber doações
O Hemocentro Regional de Alegrete enfrenta uma situação crítica em seu estoque de sangue, com especial urgência para o tipo O-. A instituição possui apenas uma unidade disponível e busca atender às crescentes demandas por transfusões.
A crise levou ao pedido de auxílio ao Hemocentro de Santa Maria, que foi solicitado a enviar mais bolsas de sangue. A situação foi divulgada nesta 4ª feira (26 de dezembro de 2024), com o objetivo de mobilizar a comunidade para doações urgentes.
Fernanda Soares, assistente social do Hemocentro, destacou a necessidade de doações. “Devido à alta demanda por sangue do tipo O- e outras tipagens, foi lançada uma campanha de urgência para mobilizar doadores a comparecerem ao hemocentro e realizarem suas doações,” afirmou.
A meta é alcançar dez unidades até o final da manhã de 6ª feira (27 de dezembro de 2024).
Para facilitar o acesso dos doadores, o Hemocentro de Alegrete manterá o atendimento normal nesta 5ª e 6ª feira. Uma coleta externa está programada para a próxima 2ª feira (30 de dezembro de 2024) na cidade de Itaqui. “Fazemos um apelo para que a população se dirija ao Hemocentro de Alegrete e contribua com as vidas que dependem dessas doações,” reforçou Soares.
Localizado na Rua General Sampaio, 10, bairro Canudos, o Hemocentro opera das 7h às 13h. A necessidade de sangue do tipo O- é urgente devido à sua capacidade de ser transfundido em pacientes de qualquer tipo sanguíneo, o que o torna vital em emergências.
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