O que estava previsto, infelizmente aconteceu.

Na sexta-feira um comunicado interno da Secretária da Saúde, Haracélli Fontoura, para um grupo de enfermeiras vazou e em seguida estava nas redes sociais.

Um cilindro de oxigênio que falte é uma vida que é perdida. Pacientes sendo atendidos em ambulância em frente à UPA, pelo esgotamento da estrutura interna da Santa Casa, que foi incrementada nas últimas semanas, mas que em poucos dias até ultrapassou o limite.

O comunicado quase desesperado trouxe a dimensão tensa de um grupo exaurido, que busca se superar minuto à minuto para salvar vidas em Alegrete.

Mas no início deste fim-de-semana outra postagem tem comovido os internautas. É um relato emocionado de uma profissional que está no epicentro desta tragédia humanitária, que já levou dezenas de conterrâneos neste último ano, e que nesta semana ceifou a média de dois pacientes por dia.

É forte, humano e tem recortes dos momentos mais tristes e comoventes da relação destes pacientes com os profissionais que atuam ali.

Leia abaixo o comunicado repassado pela Secretária Haracelli ao grupo de enfermeiras nesta sexta-feira:

“Boa tarde! Colegas estamos hj na pior situação, sem leito com oxigênio e tb pessoas dentro da ambulância na frente da Upa pq não tem onde acomodar!
Ja providenciamos mais cilindros, arrumei com o exército e tb dos nossos EsfS, amanhã vamos levar a Santa Maria cilindro vazio para recarregar, exército vai mandar uma viatura la.
Sobre o que falamos na reunião de segunda( aquela no salão azul) PREPARAR PARA O.PIOR, está acontecendo…. vamos nos reunir agora para montar escalas dos prof dos postos para ajudar a salvar pessoas la na Upa e Hospital de campanha!
Assim que der ja passaremos a vcs as instruções!
Contamos com o apoio e União de todos neste momento de Guerra.Nunca imaginaríamos passar por tudo isso!!

Depois disto, à noite, a Secretária informou ao EQ que a situação dos pacientes dentro das ambulâncias havia sido resolvida. Eles foram levados à UPA. Abriu vaga.

A partir deste sábado 17 enfermeiras que atuam nas ESFs farão rodízio no hospital de campanha e estão reunidas nesta manhã para instruções dos protocolos.

Agoram leiam abaixo o texto emocionado de uma profissional da Santa Casa de Caridade…

“A COVID é um desprazer.
É um desprazer pra quem tenta acalmar um paciente de 30 anos, sem comorbidades que vai ser entubado porque já não consegue mais respirar sozinho.
É um desprazer ver idosos perguntando porque Deus fez aquilo com eles.
É um desprazer ver aquela mãe a 8 dias, com 37 anos e não conhece seu bebê, e que provavelmente não irá ver seu rostinho, nem uma única vez.
O covid é um soco no estômago quando a gente tem que conversar com um paciente e ele pergunta se vai morrer e a gente não pode dizer que não, pq ele tem mais de 80% do pulmão comprometido.
É um soco no estômago quando alguém percebe que vai ser entubado e pede segurando a tua mão para ir pra casa. Para falar com a família, para ficar perto. Só que não temos tempo, já é tarde.
É um soco no estômago quando 5 minutos antes da entubação eles falam que irão te ver em uma semana. Quando eles nos últimos segundos não choram.
Eu nem tenho como descrever a sensação que é reanimar uma pessoa que a 2 dias estava bem e hoje parou.
Eles morrem sozinhos, os familiares não podem segurar sua mão. Eles morrem conosco.
Fiquem em casa, estamos sem leito, sem respirador, e não é a mídia que está dizendo, somos nós, estamos lá, vendo, vivendo e a cada pouco que passa, morrendo!
Não é uma guerra política!
No início muito se ouviu a frase: Você só vai entender quando for alguém próximo.
E agora, é tarde pra ela fazer algum sentido pra vc!
Não falamos, não choramos, não nos comovemos, não ali, não na hora, mas quando saímos, quando entramos no carro, quando deitamos no travesseiro, passam as imagens, os olhos brilham de tristeza, a cabeça dói por segurar as lágrimas, o coração sangra”.
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R. B que trabalha na santa casa.
E na linha de frente.