A divulgação dos dados da pesquisa nacional sobre a velocidade de expansão da Covid-19 no Brasil irá atrasar. A realização do estudo de campo, liderado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com o Ministério da Saúde e Ibope, sofreu uma série de intercorrências pelo país neste final de semana. Equipes de, aproximadamente, 40 das 133 cidades do levantamento tiveram o trabalho impedido de diversas maneiras. Em alguns lugares, prefeitos e secretários da Saúde não autorizaram a realização das entrevistas e testes rápidos de coronavírus. Em outros municípios, os entrevistadores foram agredidos pela população e até detidos.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, houve prisões em cidades do Pará, Espírito Santo, Maranhão, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso. Em Mossoró (RN), pesquisadores foram agredidos pela população, que os acusava de violar o confinamento social. A falta de autorização de prefeituras, segundo a Folha, ocorreu em 42 municípios.
UFPel lamenta incidentes
O reitor da UFPel confirmou os ocorridos à Rádio Guaíba. Pedro Hallal criticou a postura de algumas autoridades que, segundo ele, se portam como “xerifes” impedindo o trabalho dos entrevistadores. O professor relembrou que o estudo conta com autorização do Ministério da Saúde e obteve o parecer positivo da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. “Os secretários e prefeitos dessas cidades estão impedindo que a pesquisa aconteça. Estão atrapalhando a ciência brasileira e prejudicando aquele que hoje é o maior estudo do mundo sobre Covid-19”, lamentou Hallal.
A coleta de dados da pesquisa, prevista para encerrar neste domingo (17), deve ser concluída apenas na terça-feira (19). O reitor Pedro Hallal ressaltou que todos os entrevistadores selecionados foram submetidos a exames e testaram negativo para o novo coronavírus. Além dos ataques, muitos profissionais foram assaltados, confirmou o professor. “Agressões e assaltos aconteceram muito esporadicamente”, relatou.
Bons exemplos
Apesar dos problemas, Pedro Hallal destacou que muitos municípios estão contribuindo para o andamento da pesquisa. No Rio Grande do Sul, o reitor da UFPel citou o caso de Uruguaiana como exemplar. Já no restante do Brasil, Manaus foi a primeira cidade a encerrar a coleta de dados. “A sensibilidade da prefeitura, que entende a gravidade do momento, a importância dos dados da pesquisa”, elogiou Hallal.
As cidades com o menor grau de entrevistas e testes pendentes são Petrolina (PE) e São Luís (MA), que não realizaram nenhum exame até a tarde deste sábado. Na outra ponta, a pesquisa já foi concluída nos municípios de Parintins, Manaus e Lábrea (AM); Barreiras (BA); Vitória (ES); Patos de Minas (MG); Uruguaiana (RS); e Cascavel (PR).